Exemplo: Rastreamento de doadores de sangue

A dosagem sérica da enzima alanina transaminase (ALT), é usada desde 1955 como indicadora de danos hepatocelulares, encontrando-se pronunciadamente aumentada nos casos de hepatites virais, agudas e crônicas, sendo mais específica para detectar doença hepática assintomática em pacientes não alcoólicos.

Nos bancos de sangue, os doadores são rotineiramente avaliados para a elevação dessa enzima antes da transfusão.

O exemplo a seguir trata da transmissão da hepatite virótica na transfusão de sangue (Colton, 1974). Na época foi implantado um programa de rastreamento de sangue contaminado com vírus da hepatite em doadores de um banco de sangue, baseado na medida de ALT.

Resultados empíricos de várias pesquisas indicam que o logaritmo da determinação do ALT tem aproximadamente distribuição gaussiana nas populações sem e com danos hepatocelulares, respectivamente denominadas, sadia e doente.

Os parâmetros destas populações na escala logaritmica em UI/L estão mostrados no quadro abaixo:

População Média Desvio-padrão
sadia 1,25 0,12
doente 1,55 0,13

Para definir o rastreamento proposto, foi necessário estbeecer um ponto de corte de $ X=log(ALT)$.

Assim, o sangue de um doador em potencial com $ x$ acima deste ponto de corte seria rejeitado e abaixo seria aceito.

Foi estabelecido que este ponto de corte seria tal que o procedimento de rastreamento aceitasse 95% dos doadores provenientes da população sadia.

  1. Como determinamos este ponto de corte ($ x$)?

    Figura 39: Distribuição da população sadia e doente.
    \begin{figure}\centering
\psfig{figure=rastreamento.ps,height=8cm}
\end{figure}

  2. Qual é o percentual de amostras aceitas indevidamente?

    Figura 40: Distribuição da população sadia e doente.
    \begin{figure}\centering
\psfig{figure=rastreamento2.ps,height=8cm}
\end{figure}

  3. É possível calcular a especificidade deste teste? Se sim, qual é a sua especificidade?

  4. É possível calcular a sensibilidade deste teste? Se sim, qual é a sensibilidade do teste?

  5. Suponha que a prevalência de danos hepatocelulares neste população seja de 12%. Quais os valores preditivos deste teste?

    Para responder esta pergunta podemos usar as fórmulas ou alternativamente podemos simular uma população de determinado tamanho e construir uma tabela 2 x 2 a aprtir dos percentuais fixados. Por exemplo, numa população de 1000 indivíduos, seriam 120 doentes (ou seja, 12% de 1000) e 880 sadios.

    Considerando o ponto de corte de 1,45 e portanto os percentuais de amostras aceitas e rejeitadas indevidamente seriam de 22,06% e 5%, espera-se que 26 (22,06% de 120) doadores doentes sejam aceitos e 44 (5% de 880) doadores saudáveis sejam rejeitados.


    Tabela 22: Distribuição de amostras de sangue aceitas e rejeitadas numa população de 1000 indivíduos
    Doador proveniente Amostra  
    de população Aceita Rejeitada Total
    Sadia 836 44 880
    Doente 26 94 120
    Total 862 138 1000


    A efetividade do rastreamento pode ser avaliada através dos valores preditivos.

    $\displaystyle VPP=94/138=0,68 (68\%)$

    $\displaystyle VPN=836/862=0,97 (97\%)$

    Em resumo, usando o ponto de corte de 1,45 tem-se um alto percentual de amostras de doadores sadios sendo rejeitadas $ (32\%)$.

  6. De que modo seria possível diminuir o percentual de amostras rejeitadas indevidamente?

    Se, em uma tentativa de minimizar a rejeição de sangue em doadores saudáveis, passarmos a aceitar 97,5% dos doadores originados da população sadia, o ponto de corte seria 1,49.

    Nesse caso, apenas 2,5% de sangue seriam rejeitados indevidamente, mas o percentual de doentes com sangue aceito passaria para 32,3%.

silvia 2012-09-20